quinta-feira, 21 de julho de 2011

MEDO - Pablo Neruda


 Ficam todos atrás de mim para eu me exercitar,

entrar em forma , jogar futebol, me apressar, até ir nadar e voar.

Bastante razoável.


Ficam todos atrás de mim para eu me acalmar.

Todos marcam consultas médicas para mim,

olhando - me daquele jeito inquiridor.

O que é isso?


Ficam todos atrás de mim para eu fazer uma viagem,

entrar, partir , não viajar, morrer e , de forma alternativa, não morrer.

Não importa.


Ficam todos vendo coisas esquisitas

nas minhas entranhas, subitamente chocados

com os radiopavorosos diagramas.

Não concordo com eles.


Ficam todos escarafunchando a minha poesia

com garfos e facas incansáveis,

tentando, sem dúvida, encontrar uma mosca.

Tenho medo.


Eu tenho medo do mundo inteiro,

medo da água fria, medo da morte.

Sou como todos os mortais, incapaz de ser paciente.


E assim, nestes dias breves e fugazes,

vou tirá-los da cabeça.

Vou me abrir e me encarcerar

com o meu inimigo mais traiçoeiro.