quarta-feira, 14 de outubro de 2009





" Eu vejo um horizonte trêmulo , eu tenho os olhos úmidos ... eu posso estar completamente enganada  eu posso estar correndo pro lado errado. "

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Eu queria




Eu queria ter congelado o tempo pra não precisar voltar. Eu queria ter podido guardar comigo tudo aquilo que foi bom. Queria ter ficado com aquele sorriso no rosto que iluminava todos os meus dias.
Queria ter prestado mais atenção em cada detalhe daquilo que eu vivia. Queria poder confiar de verdade em alguém. Queria ter aquele com quem dividir meus maiores segredos sem medo de ser julgada. Queria não ter medo do desconhecido e encontrar aquele que me completasse. Queria não ter que sofrer e nem passar por certas provas que o destino impõe. Queria não fraquejar e não desistir. Queria ser alguém melhor, livre de regras e das mentiras que aparecem pelo caminho. Queria não ter que cair e principalmente, não deixar ninguém que eu amo cair. Relembrar aquele perfume, aquele gosto, aquela viagem e passar por tudo de novo. Queria olhar nos olhos de alguém e dizer eu te amo e logo em seguida ouvir dessa pessoa as mesmas palavras sinceras. Queria ser compreendida e também queria ser compreensível e compreensiva. Queria não ter gritado, não ter dito as minhas costumeiras grosserias.
ueria não ter avançado o sinal, apressado as coisas ou ter deixado que elas passassem entre meus dedos. Queria não ter acreditado nas pessoas e me entregado de cabeças àqueles que não mereciam meu coração. Queria ter tido a coragem de revelar meus sentimentos antes que fosse tarde demais pra isso. Queria ter saido sem destino e ao final, ter encontrado um, queria tanta coisa e ao mesmo tempo que, no fundo, eu só queria não querer nada.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


O ator




Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu em sua vida.

Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.

Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos nos quais não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e os autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.

Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor. Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter – não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica.

( Plinio Marcos )