quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Clarisse em desespero .




O verde das fotos recentes incomodava Clarisse. Sentou-se por alguns minutos no quintal de sua casa e observava em silêncio o movimento matinal . A intenção era que o sol a cobrisse de energia que a  muito sentia falta . Esperava sem nenhuma ansiedade a hora de mais uma aula . Aula que muitos anos foram a salvação para todas as suas tristezas, mas que hoje era motivo de perturbação. O porquê ela também não entendia , apenas sentia.
Fotos , mensagens , registros foram apagados não de sua memória , mas dos olhos de quem a fazia sentir-se péssima por atitudes explicadas , contudo , não compreendidas. Era movida por suas amizades e não as tinha mais , pelo menos uma que para ela  foi muito importante enquanto durou.
Sentada  frente a seu computador ao mesmo tempo em que escrevia, viajava e procurava entender o que estava acontecendo . Todo fim de ano era assim , alguma coisa muito ruim e negativa acontecia. Já estava se acostumando com a ideia de que o segundo semestre de todos os anos não eram pra ser feliz . Lutava diariamente pra que essa maldição que se instalava em sua mente fosse jogada pra longe e enterrada.
Mais um ano e logo mais um aniversário . Seus 28 anos passavam numa velocidade que não se dava conta do quanto ainda tinha pra ser feito . Chorava e sentia o pânico , o estômago embrulhava , os pés não queriam mais dançar e não era depressão o que ela tinha . Era falta de entusiasmo mesmo !
A vida caminhava conturbada , fazia ainda o papel de pai e mãe de seus pais . Era muito presente o desespero e protegia -se sempre atacando e assim foi se perdendo alguns amigos , um pouco do tempo , um pouco da vida , o trabalho , a alegria . E disfarçando -se atrás de um largo e discreto sorriso acordava cedo mesmo depois de ter ido dormir as 4 da manhã. E Cecília , a Meireles já dizia e se perguntava : " Em que espelho ficou perdida a minha face ? Era a pergunta que Clarisse fazia todos os dias !    

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Mulher da vida , minha irmã - Cora Coralina



Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.
As pedras caíram
e os cobradores deram s costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:
“Ninguém te condenou, mulher...
nem eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrurível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.
Declarou-lhe Jesus:
“Em verdade vos digo
que publicanos e meretrizes
vos precedem no Reino de Deus”.

Evangelho de São Mateus 21, ver.31.

O QUE FAREMOS ?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Perde - se




Me pergunto sempre o porque tem que ser assim , porque estamos sempre nos protegendo de perigos que não nos cabe sendo que o  perigo dorme em casa , senta -se na mesa conosco e nos faz chorar toda vez que as luzes vermelhas reaparecem . São tantas as perguntas , são infinitas as dúvidas e assustadoras as possíveis respostas . Sentimos - nos cansados dessa briga diária , das noites em claro , da velocidade da fuga e das percas incalculáveis. Perde - se o tempo , perde -se a coragem e um dia desses perderemos a vida .
( 25 de setembro / 00 : 27 madrugada )

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Explicando.





Perguntei a um sábio, a diferença que havia entre amor e amizade, ele me disse essa verdade : O Amor é mais sensível, a Amizade mais segura. O Amor nos dá asas, a Amizade o chão. No Amor há mais carinho, na Amizade compreensão. O Amor é plantado e com carinho cultivado, a Amizade vem faceira, e com troca de alegria e tristeza, torna-se uma grande e querida companheira. Mas quando o Amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a Amizade é concreta, ela é cheia de amor e carinho. Quando se tem um amigo ou uma grande paixão, ambos sentimentos coexistem dentro do seu coração.

...




" COMO É DIFÍCIL SER AMIGO SEM COMETER PECADOS "

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Filtro Solar




Aproveite bem o máximo que puder o poder e a beleza da juventude ou então esquece ... Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que eles tenham se apagado .



Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação
é tão eficaz quanto mascar chiclete
para tentar resolver uma equação de álgebra.




Estique - se ... Desfrute de seu corpo.
Use-o de toda maneira que puder. Mesmo.
Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele.
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
DANCE !!!



Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.




Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.






Entenda que amigos vem e vão , mas nunca abra mão de uns poucos e bons .

Quadrilha



João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

(Carlos Drummond de Andrade )

domingo, 20 de setembro de 2009

Pessoas são Música.



Você já percebeu?
Elas entram na vida da gente e deixam sinais.
Como a sonoridade do vento ao final da tarde.
Como os ataques de guitarras e metais
presentes em cada clarão da manhã.
Olhe a pessoa que está ao seu lado
e você vai descobrir, olhando fundo,
que há uma melodia brilhando no disco do olhar.
Procure escutar.
Pessoas foram compostas para serem ouvidas, sentidas, interpretadas.
Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas,
para tocarem suas vidas
com toda essa magia de serem música.
E de poderem alçar todos os vôos,
de poderem vibrar com todas as notas,
de poderem cumprir, afinal, todo o sentido que a elas foi dado pelo COMPOSITOR.
Pessoas são como você que tenho o prazer de conhecer.
Pessoas são música como você
que terei o prazer de continuar ouvindo.
Pessoas tem que fazer o sucesso que lhes desejamos.
Mesmo que não estejam nas paradas.
Mesmo que não toquem no rádio.
Apenas no coração.






quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Do tempo



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

( Carlos Drummond de Andrade )



terça-feira, 15 de setembro de 2009

Clarice , um mistério a revisitar .


Diziam que ela era sensual como Marlene Dietrich, escrevia como Virginia Wolf, era herdeira de Kafka e melhor que Borges . Era nativa e estrangeira, judia e cristã, bicho e pessoa, lésbica e dona de casa, homem e mulher, bruxa e santa. Suas paixões nunca deram certo. Aqui, viveu decepções e glórias, mas não conseguiu viver longe do Brasil . Seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, causou sensação. Pensavam que Clarice era pseudônimo de um homem . Vivia então entre o grupo de mineiros Fernando Sabino, Helio Pellegrino, Otto Lara Rezende e Paulinho, sua última paixão.
Para curar a depressão, cigarros Hollywood e comprimidos para insônia Bellergal, combinação explosiva que provocou mais tarde o incêndio em sua cama no Leme, queimando - a de cima a baixo. Clarice aproveitou a dor " para gritar pelo passado e o presente . E pelo futuro também ." O acidente deixou complexada a mulher mais estonteante que frequentou o Bar Recreio. Provocava sempre um furacão de paixões .Tentava afastar a morte com psicanalistas judeus como Inês Besouchet e Jacob David Azulay . Em 9 de dezembro de 1977, aos 57 anos, em seguida a uma hemorragia no hospital, sentiu que ia morrer . Gritou para a enfermeira : " Você matou meu personagem . "Ela se tornou sua própria ficção. No dia 11 de dezembro, um domingo, foi sepultada no cemitperio israelita do Caju, no Rio de Janeiro . Na tumba, em hebraico, a inscrição de seu nome : CHAYA BAT PINKHAS , CHAYA , filha de Pinkhas .

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Noite



Há tantas coisas germinando na noite, que nem sei como enumerá-las. À noite nascem as revoluções tanto as que vão triunfar como as que só se realizam em pensamento, e são quase todas. Os revolucionários viram-se, inquietos, na cama. E também os que se converterão, pela manhã, a religiões novas. E os amorosos. Análises emocionais levadas ao extremo da tortura arrastam-se pelas horas lentas da noite. Como a noite é rica! A noite é o tempo de não dormir; é o de velar e procurar; de criar mundos.
Demétrio quis prolongar a noite obturando todas as frestas do quarto, para que não entrasse a luz. Luz não entrou. Demétrio gozou da noite plena, continuada, e todos os pensamentos lhe floresciam. Construiu sistemas filosóficos. A escuridão era propícia a teorias políticas. Nenhum crítico foi mais perspicaz do que Demétrio, na literatura e nas artes. Aquela noite era fantástica. Demétrio quis experimentar as sensações de horror, êxtase, humilhação, glória, poder e morte. Morreu mesmo no escuro. Tendo sentido a morte em seu interior físico, não pôde mais tirá-la de si. É o único morto, conscientemente morto, de que já ouvi falar nesta vida. A noite é fantástica.

( Carlos Drummond de Andrade )

Entranhas



Tinha no olhar entranhas no vazio do castanho , essas entranhas tinham a curiosa mania de passar do amarelo valioso para um simples tom marítimo quando nele águas de fascinação ou desespero despertavam . Mesclavam - se em sua face pálida e perfeita , o cansaço e a paz que os dias lhe proporcionavam e em sua boca de um desenho impecável sempre imperava um sorriso gelado vindo do profundo da alma , que me fascinava.
Estranhas condutas a perseguiam e não era fácil para eu decifrar sua cabeça , e tudo isso , se escondia covardemente atrás de uma menina , que apesar do atraente cheiro de mistério que ela exalava , não deixava escapar a simplicidade de um ser humano qualquer , só um pouco mais confuso que a maioria.
Não chegou a usar roupas que chamassem a atenção , muito menos usou desse critério em suas atitudes , no entanto seus medos e visões me alucinavam , tanto que me desordenei por completo e segui de muito perto seus passos , perto o suficiente para escutar sua alma . Essa era gritante , perdida . Afundei - me nela e naquela escuridão vi o bem e o mal na sua forma mais ingênua e sufocante , invadi como nunca havia feito , tinha a vontade enlouquecida de descobri - lá e agora que descobri , me aprisionei numa instancia paralela , fora da realidade e muito , mas muito perto de mim.
Por favor , me acordem desse sonho ...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Eu , Modo de Usar.



Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

A Elegância no Comportamento.


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara : a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.
Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante você fazer algo por alguém e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição....
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
É elegante a gentileza; atitudes gentis falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém? É muito elegante.
Dar o lugar para alguém sentar? É muito elegante.
Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Oferecer ajuda? Muito elegante.
Olhar nos olhos ao conversar? Essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesma a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Amor Original



O amor, para ocorrer, não importando os níveis: se social, afetivo, paternal ou maternal, fraternal - que é o amor entre irmãos e companheiros - deve obrigatoriamente ser permitido. O que significa ser amor permitido? Bem, de fato quase nunca pensa-se sobre isso porque passa tão despercebido que atribui-se a um comportamento natural do ser humano ou de outros seres vivos. Mas não, a permissão aqui referida toma-se por base um sentimento de reciprocidade capaz de dar início e alargar as relações de afetividade entre duas ou mais pessoas ou seres que estão em contato e que por ventura vêm a nutrir um sentimento de afeição ou amor entre si.
A permissão ocorre em um nível de aceitação natural, mental ou físico, no qual o ser dá abertura ao outro sem que sejam necessárias quaisquer obrigações ou atitudes desmeritórias ou confusas de nenhuma das partes. A liberdade de amar, quando o sentimento preenche de alguma forma a alma e o corpo e não somente por alguns minutos, dias ou meses, mas por muitos anos, quiçá eternamente enquanto dure e mais nas lembranças e memórias.
Por que você me ama? Porque você permitiu. Essa frase remete ao mais simples mecanismo de reciprocidade e lealdade, se um pergunta ao outro a razão de seu sentimento de amor em direção a ele, a resposta só poderia ser essa. A razão do sentimento de amor em direção à outra pessoa recaí na própria pessoa amada, que em seus gestos, palavras, pensamentos e ações conferiu permissão a que a outra pessoa ou ser - podendo até ser um animal de estimação - o dedicasse aquele sentimento de amor.
O amor pode ser entendido de diferentes formas, e tomado por certo conquanto é um sentimento, dessa forma é abstrato, sem forma, sem cor, sem tamanho ou textura. Mas é por si só: O sentimento em excelência; o que quer dizer que é o sentimento primário e inicial de todo e cada ser humano, animal ou qualquer outro ser dotado de sentimentos e capacidade de raciocínio natural.
Todos carecem de amor e querem reconhecer esse sentimento em si e nos outros, não importando idade ou sexo. O amor é vital para nossas vidas como o ar, e é notoriamente reconhecido que sem amor a criatura não sobrevive conquanto o amor equilibra e traz a paz de espírito quando é necessário.

Amor Platônico



Amor platônico é uma expressão usada para designar um amor ideal, alheio a interesses ou gozos. Um sentido popular pode ser o de um amor impossível de se realizar, um amor perfeito, ideal, puro, casto.
Trata-se, contudo, de uma má interpretação da filosofia de Platão, quando vincula o atributo "platônico" ao sentido de algo existente apenas no plano das idéias. Porque Idéia em Platão não é uma cogitação da razão ou da fantasia humana. É a realidade essencial. O mundo da matéria seria apenas uma sombra que lembraria a luz da verdade essencial.
A expressão amor Platônico é uma interpretação equivocada do conceito de Amor na filosofia de Platão. O amor em Platão é falta. Ou seja, o amante busca no amado a Idéia - verdade essencial - que não possui. Nisto supre a falta e se torna pleno, de modo dialético, recíproco.
Em contraposição ao conceito de Amor na filosofia de Platão está o conceito de Paixão. A Paixão seria o desejo voltado exclusivamente para o mundo das sombras, abandonando-se a busca da realidade essencial. O amor em Platão não condena o sexo, ou as coisas da vida material.
Na obra Simpósio (de Platão), há uma passagem sobre o significado do amor. Sócrates é o mais importante dentre os homens presentes. Ele diz que na juventude foi iniciado na filosofia do amor por Diotima de Mantinea, que era uma sacerdotisa. Diotima lhe ensinou a genealogia do amor e por isso as idéias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor. Segundo Joseph Campbell, "não é por acaso que Sócrates nomeia Diotima como aquela que lhe deu as instruções e os métodos mais significativos para amar/falar. A palavra falada por amor é uma palavra que vem das origens .