domingo, 18 de julho de 2010





Eu escrevo assim pequeno

E é assim porque poemas pequenos não machucam. Vez ou outra fazem alguma cócegas, apenas isso. Mas não chegam a sangrar. Não ferem profundamente porque acabam antes da dor.

Mas eu confesso.  No fundo eu minto.

Porque escrever sangra. Seja lá de que tamanho for a escrita. E sangra porque para escrever é preciso se abrir de um jeito inexplicável. E eu me abro. Exponho vísceras, coração e veias.

Dilacero - me.

E ao meu cortar jorram palavras e tintas e placentas junto com o sangue denso e rubro.Tudo misturado e caótico. E as vezes é uma nojeira, mas as vezes é a coisa mais linda! Um quase milagre. Ou um orgasmo. É um nascer-me.
É desse jeito que eu escrevo.
Eu escrevo no avesso do dia. Quando a luz não grita e a vida faz aquele silêncio palpável, mastigável.
É também quando no mundo ventila aquele gosto de imortalidade. E até meu coração, meu trêmulo coração, escorre em minhas mãos.
Encontro inspiração quando em tudo faz aquele silêncio gostoso da madrugada. E eu percebo minha solitude. E eu faço de conta que tudo é meu e nada existe além dos muros da minha pele. Ai me entrego e me abro inteira. Devolvo-me a voracidade intensa que me lateja o tempo todo.
Quando entre o negrume do céu e a umidade da pele percebe-se aquela explosão mascarada de quietude ... No avesso do som, na beirada do improvável, mergulhada no impossível ... É ai  que eu encontro minha poesia.

E a gozo - languidamente - na língua da noite.

" Dançar e cantar por hábito e não ter cantos escuros pra guardar os meus segredos ... "