quarta-feira, 31 de março de 2010


Ontem andei o dia todo assim.

Adormeci assim.

Acordei assim.

Tive razões para estar assim.

Tenho razões para estar assim.

Assim sim, quero viver assim.

segunda-feira, 22 de março de 2010

EM BAIXO TOM



Ando em zaragatas comigo mesma neste alheamento de ruas à minha volta.

Salto poças, tropeço em pedras, mergulho num chão áspero de calçada pontiaguda, que me rasga a roupa e me faz sangrar os joelhos.

Tenho as mãos esfaceladas, aleijadas, torcidas de tanto não querer cair. Mas caio! Ajoelho-me perante as artérias ruidosas da cidade ao meu redor. Do mundo. Da vida que me anestesia e me saúda com tropeços e majestades de menina mimada.

Quero tanto tudo mais, mas continuo a ver as cicatrizes abertas nas estradas por onde passeio o meu corpo. Quero tanto parar, encostar-me ao banco do jardim e ficar. Quero dormir, sentir o sol a bater na cara e as pernas caídas com os pés escarrapachados na relva verde e húmida que o descanso permite.

Vou fechar os olhos. Vou ficar aqui parada a ver se adormeço o cansaço.

DIA DA POESIA



Não ter medo de ir até ao limite do ser? Ou antes, não ser capaz de resistir ao abismo? Escolher uma liberdade total? Ou desistir de lutar por uma vida de afetos?... Perguntas que não poderão ter respostas objetivas. Sebastião Alba é poeta e morreu atropelado. Viveu quase vinte anos nas ruas de Braga. Porque quis? Ou porque a vida não lhe deu outra opção?

Depois de ter tomado um copo no bar da CP, em Braga, encaminhou-se para a linha, onde o comboio aguardava vez para arrancar. Eram talvez sete da manhã. Tocou no braço do amigo antes de este entrar na máquina e arranjou-lhe o nó da gravata. Já o podia deixar partir. Ele por ali ficou, com as roupas desalinhadas e o rosto de mendigo.

Sebastião Alba, o pseudómino de Dinis Carneiro Gonçalves, foi uma das últimas vítimas conhecidas de atropelamento em Braga. Morreu há oito dias, segundo versão oficial, na rodovia, junto à Bracalândia. Ironia do destino, costumava dizer que morreria de muita coisa, mas nunca atropelado. A vida acabou na sequência de um embate com "um selvagem motorizado" (assim apelidava os condutores), que se pôs em fuga. Sebastião Alba é (porque estes não morrem) poeta, e foi um sem-abrigo por opção. "Fui  hóspede desta mansão na encruzilhada dos meus sentidos", escreveu num dos seus poemas, um dos que lhe valeram o prémio literário ITF. O dinheiro do prémio teve o mesmo destino que os direitos de autor pelos livros editados: as duas filhas. Há quase vinte anos que vivia nas ruas de Braga e fazia-o com a perfeita consciência de quem assume uma ruptura total com o mundo.

Para muitos, Sebastião Alba não era mais do que o mendigo que se metia com as pessoas na paragem do autocarro. Algumas desconfiavam de tanta marginalidade, mas outras foram aprendendo a conhecê-lo e a dar-lhe uns "bons dias" casuais. "É esta a imagem que tenho dele: na paragem do autocarro", conta Henrique Barreto Nunes, director da Biblioteca Pública de Braga. "Parecia ser um homem de uma profunda amargura com a vida, mas que se encantava com a música, as crianças, a beleza de uma mulher".

"É um poeta da alma, no sentido em que a vida e a poesia lutam entre si", pormenoriza o actor António Fonseca, que ocasionalmente se cruzou com Alba na rua. Também Fonseca sublinha esse encanto "adolescente", que persistia em Sebastião Alba, apesar do voltar de costas a uma vida dita normal. Andava sempre acompanhado de uma garrafa, uma harmónica e um rádio "sintonizado na Antena 2", lembra José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), que acompanhou muito de perto os últimos anos do poeta.

O mais surpreendente em Sebastião Alba talvez seja isto mesmo. Rompeu com o mundo, mas continuou a acompanhar as notícias. Ocupava o pensamento com "compassos inteiros de música e trechos do Zaratrusta", recorda Mendes. O Super-Homem de Nietszche terá vencido em Alba? Poder-se-á ser livre, totalmente livre, sem amarras? "O Alba é alguém que andava liberto de quaisquer teias, ainda que levasse uma existência que não era de felicidade", considera o presidente da APE. "Era livre porque não se sentia condicionado por nenhum mecanismo moral", assume Barreto Nunes. "A maior parte das pessoas foge a ser assim e refugia-se noutras coisas", completa António Fonseca.

Sebastião Alba era o poeta marginal total. Em 1996, escrevinhou ao seu amigo e também poeta Vergílio Alberto Vieira: "Fui longe de mais dentro de mim". Talvez seja esta a frase que melhor sintetiza a sua vida. "Ele tinha a consciência de que o facto de ter enveredado pelo alcoolismo, de viver só e no submundo, era ir longe de mais", admite Vieira. "Nesta escolha, há uma imensa carga de contradição, de que ele era mais vítima do que sujeito". Guarda fielmente um emaranhado de papéis, "escritos sei lá em que condições", do seu amigo. Estas folhas eram deixadas repetidamente por Alba na sua caixa do correio. Muitas dessas palavras poderão, um dia, ser ordenadas em páginas limpas e desenrugadas. É esta, pelo menos, a esperança do poeta bracarense. Aguarda-se que as instituições se interessem genuinamente por uma obra desconhecida. Enquanto tal não acontece, a editora Campo das Letras, do Porto, promete editar uma antologia da obra de Sebastião Alba, que escrevia "com uma lucidez de cortar à faca".


" Eu gosto de vc ... e gosto de ficar com vc, meu riso é tão feliz contigo ... meu melhor amigo é o meu AMOR "

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cecilia Meireles



Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever suas primeiras poesias.
Formou-se professora (cursou a Escola Normal) e com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro “Espectro” (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista.
No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias. Com ele, a escritora teve três filhas.
Sua formação como professora e interesse pela educação levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Escreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, “O cavalinho branco”, “Colar de Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”, entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das principais características de sua poesia).
O marido suicidou-se em 1936, após vários anos de sofrimento por depressão. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira.
No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

Cecília faleceu em sua cidade natal no dia 9 de novembro de 1964.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ser chique é uma questão de atitude



Nunca o termo "chique" foi tão usado para qualificar pessoas como atualmente.
A verdade é que ninguém é chique por decreto.
E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão a venda. Elegância é uma delas.
Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupas recheado de grifes importadas. Muito mais que um belo carro alemão.
O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta.
Chique mesmo é quem fala baixo. Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes. Mas que, sem querer, atrai todos os olhares, porque tem brilho próprio.
Chique mesmo é quem é discreto, não faz perguntas inoportunas, nem procura saber o que não é da sua conta.
Chique mesmo é parar na faixa de pedestre e abominar a mania de jogar lixo na rua.
Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e as pessoas que estão no elevador. É lembrar do aniversário dos amigos.
Chique mesmo é não se exceder nunca. Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.
Chique mesmo é olhar no olho do seu interlocutor. É "desligar o radar" quando estiverem sentados a mesa do restaurante e prestar verdadeira atenção à sua companhia.
Chique mesmo é honrar a sua palavra. É ser grato a quem lhe ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios.
Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, mas ficar feliz ao ser prestigiado.
Mas para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre do quanto que a vida é breve e de que vamos todos para o mesmo lugar.
Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se cruzar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não lhe faça bem.

Porque, no final das contas, chique mesmo é ser feliz!


Texto de o livro "A quem interessar possa", de Gilka Aria



Presente para você


Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo a fora.
Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você, se pudesse, o respeito aquilo que é indispensável.
Além do pão, o trabalho.
Além do trabalho, a ação.
E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.


( Mahatma Gandhi )



Canção da Menina Antiga



Esta é a dos cabelos louros

e da roupinha encarnada,

que eu via alimentar pombos,

sentadinha numa escada.

Seus cabelos foram negros,

seus vestidos de outras cores,

e alimentou, noutros tempos,

a corvos devoradores.

Seu crânio está vazio,

seus ossos sem vestimenta

--- e a terra haverá sabido

o que ela ainda alimenta.

Talvez Deus veja em seus sonhos

--- ou talvez não veja nada ---

que essa é a dos cabelos louros

e da roupinha encarnada,

que do alto degrau do dia

às covas da noite, escuras,

desperdiçou sua vida

pelas outras criaturas...



( Cecília Meireles )

sexta-feira, 5 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Caderno ( Toquinho )




Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco
Até o be-a-bá.

Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha
Duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
Te acompanhar nas provas
Bimestrais, você vai ver

Serei, de você, confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser

Quando surgirem
Seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá
Num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer

Só peço, à você
Um favor, se puder

Não me esqueça
Num canto qualquer